“Apoiado em seu grande poder de comunicação, Volodymyr Zelensky saltou do palco na TV para o palanque político.”
Denise Mirás na Edição histórica da ISTO É de número 2719 de 04 de março do 2022: “A guerra da Ucrânia revelou um herói ao mundo. Enquanto os tanques russos avançavam, Volodymyr Zelensky virou foco dos holofotes como símbolo de resistência do povo ucraniano, ao aparecer em posts publicados por ele mesmo em redes sociais, como prova de que está nas ruas de Kiev e não fora do país ou escondido em algum bunker.
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Provocou emoção aberta, com choro de seu intérprete, durante o discurso de terça-feira, na sessão extraordinária do Parlamento Europeu, ao falar por vídeo sobre as estradas e cidades bloqueadas e os mísseis, bombas e tiros acertando civis, incluindo crianças. “A vida vencerá a morte e a luz vencerá as trevas”, disse.
O presidente da Ucrânia foi ovacionado e contou para isso com sua habilidade de homem de mídia. Antes de assumir esse novo papel, foi apresentador de TV e aprendeu a dominar o público. Mesmo que haja rendição diante da superioridade bélica da Rússia, já é um vencedor, assim como seu país.
O apoio foi demonstrado também por milhares de pessoas em manifestações gigantescas pelo fim da guerra nas principais cidades do planeta. Já diante de Vladimir Putin, a reação foi contrária: mesmo ganhando a guerra, ele será derrotado pela história. Zelensky iniciou sua jornada de herói quando resistiu aos primeiros movimentos da invasão e não fugiu, o oposto do que o presidente russo imaginava.
O ucraniano apelou por ajuda dos EUA e dos países europeus, sendo apoiado por líderes e instituições internacionais com aplicação de sanções financeiras a Moscou, congelamento de bens de empresários e políticos aliados de Putin, e a retirada dos principais bancos russos do Swift, o sistema internacional que movimenta todas as operações bancárias do mundo.
Foram medidas excepcionais, nunca aplicadas antes. Mostram que a Europa considera o avanço de Putin a maior ameaça geopolítica à Europa desde o fim da Guerra Fria. Até a Suíça quebrou a neutralidade histórica de proteção a seus clientes, apoiando o cerco financeiro a companhias e oligarcas russos.
Na Rússia, essa asfixia fez o rublo derreter, provocou uma corrida da população aos bancos para sacar moedas fortes, levou o Banco Central do país a dobrar a taxa de juros e deixou a Bolsa de Moscou fechada desde a segunda-feira.
Ações de empresas russas despencaram 98% no exterior e agências de classificação de risco rebaixaram a nota de crédito do país para junk, ou “lixo”. O comércio da Rússia com o mundo está praticamente paralisado e a população já enfrenta desabastecimento e mais inflação.
Se Putin não contava com a resistência dos ucranianos e suas forças mostraram problemas de logística, com falta de combustível e coordenação, mesmo assim o Exército russo fez uma grande demonstração de força com um comboio de veículos e soldados fortemente armados que ocupou até 60 quilômetros em estradas ao se dirigir na quinta-feira à capital Kiev, alertando aos residentes para deixarem a capital antes do início dos bombardeios.
Os combates cresceram em intensidade, foi denunciado o uso de bombas de fragmentação e até a ameaça de uso de armas termobáricas (as mais potentes depois da bomba atômica). Mas Zelensky já havia declarado: “Eles verão as nossas caras, não as nossas costas”.
Apesar do apelo pela ajuda ocidental, Zelensky não pôde contar com a ajuda direta da OTAN, pois seu país não integra a aliança militar. É justamente essa possível participação que foi usada como argumento por Putin para a invasão.
Zelensky conseguiu apoios históricos. A Alemanha reverteu sua política de não interferir militarmente no exterior, em vigor desde a Segunda Guerra, e aprovou o envio aos ucranianos de equipamentos antitanque e mísseis terra-ar.
Também anunciou que aumentaria suas despesas em Defesa para 2% do PIB, com investimento inicial de 100 bilhões de euros (mais de R$ 550 bilhões), algo impensável há apenas poucos meses. Mas, de imediato, os ucranianos continuaram lutando sozinhos dentro de suas fronteiras. Do lado russo, tendo falhado em depor Zelensky e obter rapidamente a rendição ucraniana, Putin impõe agora uma guerra de exaustão.
A movimentação diplomática ocorreu paralelamente às ações do ucraniano. Enquanto representantes de governos estrangeiros participavam de debates e discursos em salas e salões refrigerados, Zelensky disse que os ucranianos lutavam por sua terra e por liberdade: “Ninguém vai nos quebrar. Somos fortes”.
Ciente da inferioridade bélica de seu país, apelou para que a ajuda se materializasse. “Preciso de munição, não de carona”, avisou os EUA, quando lhe ofereceram a chance de fugir pela Polônia. Antes da invasão, já pedia apoio a Joe Biden.
Desde o início, chamou a população para pegar em armas, que foram distribuídas a civis. Coquetéis molotov começaram a ser produzidos em massa. A reação popular contra os tanques invasores foi imediata e rodaram o mundo as imagens de populares tentando barrar os blindados com seus próprios corpos.
Mesmo ostentando bravura, Zelensky terá uma dura guerra pela frente. O presidente francês Emmanuel Macron (que trabalha por mais um mandato nas eleições de abril) se deslocou em tentativas de soluções diplomáticas que não resultaram em nada. O chanceler alemão Olaf Scholz se viu amarrado com a possível perda do suprimento de gás russo que passa dos 50% consumidos em seu país.
E o próprio presidente dos EUA foi visto, até certo ponto, como hesitante, sendo acossado pelo rival Donald Trump. A retórica do americano só se tornou mais veemente no tradicional discurso do “Estado da União”, quando disse que alcançará as “fortunas dos oligarcas russos: suas contas, iates e mansões”.
Mas, na prática, o recado foi: os ucranianos que se defendam. Em meio à iminência da tomada das principais cidades da Ucrânia, a União Europeia anunciou que fornecerá 450 milhões de euros (mais de R$ 2,5 bilhões) para compra de armas letais e outros 50 milhões (perto de R$ 300 milhões) para equipamentos não letais. O envio poderá ser via Polônia, funcionando como centro logístico.
Corredores humanitários: Depois da segunda rodada de negociações, na quinta, chegou-se a um acordo pela abertura de corredores humanitários a civis que estão no fogo-cruzado (na véspera, a Ucrânia havia pedido ao papa Francisco que intercedesse na questão). Zelinsky, por sua vez, pediu audiência com Putin. Mas enquanto russos e ucranianos continuam tentando chegar a um acordo pelo fim da guerra, os combates continuam.
Na Europa, o Tribunal de Haia iniciou investigações sobre a invasão. O êxodo de ucranianos chegou a um milhão na fuga para países vizinhos, que precisam encontrar soluções rápidas para acomodar refugiados.Também continuam ciberataques e envios de informações e contrainformações usadas como armas de guerra. E ainda cresce a censura a redes sociais, que tentam mostrar o que de real ocorre no front ou nos subterrâneos da guerra.
No oitavo dia de combate, as tropas russas cercavam as principais cidades da Ucrânia, além da capital Kiev. Para intimidar, Putin usou a ameaça nuclear, deslocando submarinos para a costa da Finlândia (pelo lado Norte, o presidente russo já tem a Belarus, aliada que também teria entrado na guerra, enviando soldados para dentro da Ucrânia).
Pelo Leste, a segunda cidade do país, Kharkiv, já havia sido tomada. No Sul, o ataque de Putin partia do mar. Outra cidade que já estava em poder dos russos é Kherson, porto do Mar Negro. Por ali os russos também avançavam, entrando por Mariupol e Odessa. Putin conta com a China comunista a seu lado, o petróleo do Irã e tem até o apoio do México, dirigido por López Obrador, de esquerda. Mas ficou isolado contra o mundo. A Coreia do Sul disse que bloquearia o fornecimento de materiais essenciais à produção tecnológica.
União Europeia, Canadá e EUA fecharam seus espaços aéreos a aviões russos. No campo esportivo, a ação coordenada atingiu até o bilionário russo Roman Abramovich, que teve de deixar o comando do Chelsea, clube britânico de futebol campeão mundial. Além disso, a Rússia foi desfiliada do COI, o Comitê Olímpico Internacional, e seus atletas não poderão participar de campeonatos internacionais de vários esportes, do Mundial de Patinação Artística até a Copa do Mundo de futebol no Catar, no fim do ano.
A mobilização da comunidade internacional cresce e, na quarta-feira, 2, a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução condenando a invasão por 141 votos a favor, 5 contra e 35 abstenções. O cerco econômico ameaça Putin. Mais do que a insatisfação popular, sua fragilidade está no círculo de oligarcas que apoia o seu governo e se beneficia do seu poder. Esses bilionários concentram a maior parte dos seus ativos no exterior e agora estão impedidos de utilizar seus recursos.
Com as sanções, os líderes ocidentais avaliam que atingiram a rede financeira oculta de Putin. Ao mirar o círculo íntimo do presidente russo, as democracias tentam na prática ter encontrado o caminho para dobrar o anacrônico candidato a czar. Quem é Zelensky: Criado em Kryvyi Rih, onde se fala russo e não ucraniano, Volodymir Zelinskly formou-se em Direito na Universidade Nacional de Economia, mas desistiu de ternos sisudos para trabalhar como ator.
Abriu um estúdio para produzir filmes e séries (como a “Servo do Povo”, onde interpreta justamente um presidente ucraniano e que se tornou um grande sucesso). Apresentava seu próprio programa de tevê e ficou ainda mais famoso quando venceu a “Dança dos Famosos”.
A mulher, Olena Zelenska, desistiu da arquitetura para se tornar roteirista e se dedicar aos filhos Sasha e Cyril, com 17 e 9 anos. Em 31 de dezembro de 2018, quando Zelensky anunciou — a sério — sua candidatura à presidência da República (enquanto o presidente de fato, Petro Poroshenko, discursava à nação), não teve o apoio dela.
Como candidato, Zelensky saiu do zero, mas com um discurso anticorrupção venceu o aliado de Vladimir Putin com 73,2% dos votos no segundo turno. Logo após a posse na presidência da República, em 2019, seu partido obteve maioria nas eleições antecipadas do Legislativo. Com frases explosivas e vídeos curtos no Twitter e no Instagram, manteve seu jeito crítico. Rebateu, por exemplo, quem dizia que teve apoio de grupos de extrema direita e nazistas, lembrando que teve três tios-avôs mortos no Holocausto (ele é judeu). Com 44 anos completados em 25 de janeiro, agora se vê em meio à ameaça de armas nucleares e ao cerco a Kiev. Zelensky diz que é “o alvo número 1” de Putin, e sua família, o número 2.” (Matéria assinada por Denise Mirás na Edição histórica da ISTO É de número 2719 de 04 de março do 2022).
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GOOGLE NELA: A saga de ITAGUARACY BEZERRA JUCÁ advogada que envergonha duas OABês!
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