“Depois de uma eleição, é comum tentar extrair explicações das urnas.
Esse exercício é mais útil quando quem analisa toma cuidado elementar de não cair na tentação de utilizar eleições já apuradas para prever o resultado da eleição seguinte. Observada essa precaução, o esforço para decodificar os sinais emitidos pelo eleitorado é um saudável e pedagógico exercício. As urnas municipais de 2020 trouxeram à tona um eleitor bem diferente daquele que votou na disputa presidencial de 2018, eis a primeira constatação. Há dois anos, o brasileiro estava indignado com o petismo no varejo e irritado com a política no atacado. Queria chutar o balde. Buscava um antipetista capaz de virar o sistema do avesso. Deu em Jair Bolsonaro.
A eleição da pandemia trouxe à tona um brasileiro inseguro. Em vez de mudar tudo isso que está aí, esse eleitor revelou-se propenso a manter o que imagina estar funcionando. O grosso do eleitorado evoluiu da vontade de mudar para o desejo de conservar. Valorizou resultados em detrimento do discurso ideológico. No geral, prefeitos que aproveitaram a visibilidade proporcionada pela crise sanitária para valorizar o ser humano foram premiados. Houve uma espécie de despolarização compulsória do ambiente político.
As urnas sinalizaram à extrema-direita de timbre bolsonarista que é preciso retirar o ódio do pudim, adicionando resultados à receita. O recado enviado à esquerda de viés petista foi o de que pode estar em curso uma renovação. O PT demorou tanto para produzir uma autocrítica que surgiu na face de Guilherme Boulos um PSOL com aparência de autópsia.
O pano de fundo dessa conjuntura é um avanço das legendas do centrão e suas adjacências. Por ora, quem mais elegeu prefeitos foram MDB, PP, PSD, PSDB e DEM. Quer dizer: após a ilusão do novo, a política brasileira continua girando como parafuso espanado ao redor das mesmas oligarquias.” (JOSIAS DE Souza – UOL Notícias).
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