“O xis da questão é que a vida e a morte não são questões apenas de foro íntimo, mas têm dimensões políticas. O filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.), associado ao hedonismo, dizia que “contra todo o resto consegue-se garantir segurança, mas, diante da morte, habitamos todos uma cidade sem muros”.
A frase pode ser simplesmente interpretada como a afirmação da inevitabilidade da morte, mas também como a indicação de que somos todos mortais e habitamos o mesmo mundo. “Sei que não estamos no mesmo barco, pois embora a tempestade pareça a mesma, há poucas pessoas sozinhas em iates e há muitas outras em canoas superlotadas.
Mas a máxima de Epicuro indica que uma das maneiras mais efetivas de lutar contra a morte é investir as energias para tornar a pólis [a cidade, o espaço] onde habitamos um lugar melhor para nós e para os outros. Fazer política é resistir à morte”, define Feitosa. Isto é: carpe diem não quer dizer coronafest, covid party ou mandar mensagem “oi, sumido” para furar a quarentena e transar — o que, como resumiu a médica Gloria Brunetti, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, “é irresponsabilidade em relação ao nosso corpo e ao corpo do outro. O vírus não perdoa”. Mas há outras maneiras mais sublimes para aprender a “colher o dia” na lavoura que se tem.
“Pense, por exemplo, na duração do tempo, quando estamos brincando, ouvindo música ou quando nos descobrimos apaixonados. Isso vale também para situações de tristeza e luto. Nenhuma dessas situações dura só um instante, mas nenhuma dura para sempre também”, exemplifica o filósofo da Unirio. Para a psicanalista e filósofa Viviane Mosé, autora de “Nietzsche hoje” (Vozes, 2018), a filosofia de viver o dia se encaixa perfeitamente no contexto de pandemia. “O vírus é parte da vida, da natureza. Estar isolado devido a uma doença é parte da vida. Viva o seu dia, viva o isolamento, viva o estar sozinho.
Viva a angústia, o medo, o momento de euforia. Viva da melhor maneira possível. Viver o seu dia é a melhor referência que nos posiciona no tempo, no instante e no agora. Fugir do instante, planejando projetos e futuros que podem nunca se concretizar, é viver em uma bolha”, analisa. Como saltar de uma nebulosa niilista para um respiro nesses tempos tumultuados? Como compreender que o mundo é injusto, a Covid-19 é grave e a vida é finita, mas que para não enlouquecer precisamos parar, respirar e viver um dia de cada vez?
“Tudo isso é fato. O que está em jogo é como você escolhe viver esses fatos”, responde a médica Ana Claudia Quintana Arantes, autora de “A morte é um dia que vale a pena viver” (Sextante, 2017), desdobramento de um TEDx Talk na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). “Aproveite o dia não diz pra você ser tolo de só olhar para o prazer que o dia te traz. É mergulhar em tudo o que o dia oferece, inclusive dor, fracasso, medo. Aproveite o dia com todos os aprendizados que ele oferece. O que podemos fazer de melhor é ir na direção de tudo o que nos permite acessar nossa coragem para cultivar esperança no mundo que vamos ter de reconstruir depois desta pandemia.” (Juliana Sayuri – TAB UOL).
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