“Reunido em seu 7º Congresso, o PT passou três dias —de sexta a domingo— se autovangloriando em discursos e debates sobre a força de Lula e a disposição da legenda para mobilizar as ruas contra o governo de Jair Bolsonaro. Ao final, reelegeu-se Gleisi Hoffmann para a presidência da legenda e aprovou-se uma resolução. O documento impõe à valentia petista uma certa ponderabilidade cômica. Mal comparando, o PT ficou em posição parecida com a do sujeito que diz que vai quebrar a cara do outro, mas expõe tantas condicionantes para levantar da cadeira que acaba comprometendo a seriedade da cena. A banda mais esquerdista do PT defendeu a adoção do bordão “Fora Bolsonaro”.
O grupo majoritário, comandado por Lula, sugeriu uma emenda que transformou em piada o soneto. Puxa daqui, estica dali anotou-se no documento que a direção nacional do PT pode atualizar sua tática oposicionista, exigindo a saída de Bolsonaro, desde que se observe uma “evolução das condições sociais”, da “percepção pública sobre o caráter do governo” e da “correlação de forças”. O que o PT escreveu no seu documento, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: “Nós adoraríamos fazer com Bolsonaro o que fizeram com Dilma Rousseff. Entretanto, sem a adesão do asfalto e de dois terços da Câmara (342 votos), a defesa do impeachment não passa de tolice de uma oposição cuja valentia está sustentada sobre pés de barro.
Noutro trecho, a resolução petista menciona a conveniência de costurar “a mais ampla unidade da esquerda”. Tomada pelo número de partidos que enviaram representantes ao encontro, a amplitude da unidade será bem estreita. Apenas o PCdoB e o PSOL prestigiaram a pajelança petista. Nem sinal do PDT, por exemplo. Ou do PSB. O texto do PT deixa entreaberta uma janela para o diálogo com “personalidades e setores de centro”. Mas posiciona-se contra o receituário liberal que o centrão e adjacências vêm apoiando no Legislativo. A reforma da Previdência, já aprovada na Câmara e no Senado, é tachada pelo petismo de “elitista e excludente”. A falta de nexo é evidente. Mas o PT avalia que “não há contradição”. Alega que sempre se poderá “buscar alianças mais amplas”, quando estiver em jogo a a defesa “do Estado de Direito e de outras causas que extrapolam o campo das esquerdas, como a defesa da universidade pública ou ou o combate à homofobia”. Ou “a liberdade de Lula”.
Reeleita presidente do PT, Gleisi Hoffmann reiterou que o partido tem a pretensão de voltar ao Planalto com Lula. Falta lavar a ficha suja do personagem. E construir o que a resolução do PT chamou de maioria consistente na sociedade”. Algo “que não seja apenas eventual, conjuntural, mas que se afirme como verdadeira hegemonia democrática de ideias e valores”.
O diabo é que o PT continua dizendo coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Não consegue expor as ideias nem enumerar os valores. Ao discursar, Dilma insinuou que Bolsonaro destrói a Petrobras, uma estatal que o PT e seus sócios pilharam. Lula informou que, retornando ao poder, o PT voltará a liberar empréstimos para obras em países como Cuba e Venezuela, que deram o calote no BNDES. E Gleisi: “Nós queremos Lula percorrendo o Brasil. Nós queremos Lula presidente novamente. O povo vai ter que reagir”.
Nas palavras da presidente reeleita do PT, “é nas ruas” que o petismo “vai vencer essa pauta de retrocesso” do governo Bolsonaro. Madame ainda não percebeu. Mas o PT não perdeu apenas o monopólio do asfalto. O partido perde votos. Nas eleições presidenciais de 2002 e 2006, Lula prevaleceu com 61% dos votos válidos. Em 2010, Dilma ganhou o trono com 56%. Em 2014, madame foi reeleita com 52%. Na sequência, podaram-lhe o mandato —com os decisivos votos de supostos aliados. Em 2018, com Lula na cadeia, Fernando Haddad obteve 44,8% dos votos válidos. De saco cheio, os brasileiros optaram por içar Bolsonaro do baixíssimo clero da Câmara para o terceiro andar do Planalto. Uma parte do eleitorado de Bolsonaro já se arrependeu. Mas esse eleitor não faz fila na porta do PT. Planeja cometer erros novos em 2022.” (Josias de Souza).
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